domingo, 20 de julho de 2014

NIETZSCHE - CRIAR É SE SUPERAR



Não tenho aqui a pretensão de elucidar e nem tampouco querer explicar Nietzsche, uma vez que, penso que, o mesmo, por tão complexo e hermético que é, não pode ser traduzido. Penso mais: que todo aquele que tem a pretensão de traduzir Nietzsche corre também o risco de traí-lo.

Meu objetivo aqui é apenas fomentar o diálogo e a problematização acerca de questões que, a meu ver, tem sido mal colocadas e/ou desvirtuadas por parte de alguns ditos filósofos pós-modernos a respeito dos principais axiomas de Nietzsche.

I - Nietzsche, embora não saibam muitos, critica a moral judaico-cristã e também os auspícios da ciência no que se refere à busca desta pela verdade. Todavia, sua crítica, em nenhum momento, o coloca na condição daquele que faz apologia às imoralidades, às libertinagens e/ou a criação de novos dogmas para serem postos como ditas verdades.

II - Sua obra o "Anticristo" não se trata de uma apologia ao ateísmo, mas de uma visão sobre o que fizeram de Deus e também de uma configuração sobre o niilismo provocado pelo Antropocentrismo ao Teocentrismo com o surgimento da era moderna. Nietzsche, por exemplo, diz-nos: "(...) eu somente creria num Deus que soubesse dançar..." 

III - Vontade de potência, em Nietzsche, diz respeito a importância da busca do homem pela sua superação enquanto ser humano, ou seja, diz respeito ao alcance da plenitude de sua humanidade. E ele nos diz: "o homem é uma ponte e não um fim... o homem é uma ponte que vai do animal para além dele mesmo... e é perigosa essa travessia..." 

IV - Ser "humano, demasiado humano", para Nietzsche, não é um Ser se tornar escravo dos seus próprios maus e/ou supostamente auto ditos bons instintos; não é se tornar escravo do seu próprio corpo, dos seus desejos, ainda que se julgando, nesse tortuoso caminho, estar seguindo em oposição férrea às ideias e/ou aos ditos ideais Platônicos. Ser “humano, demasiado humano”, para Nietzsche, frise-se: é apenas pôr-se a exercitar-se como artista, isto é, é buscar ser capaz de criar e recriar novas formas possíveis de existência. Para Nietzsche, voltar-se para a arte, para o “que fazer artístico”, para a criação de novos sentidos para a vida, já é questionar e/ou revolucionar todas as formas antigas ou modernas estabelecidas de ditas verdades. Nietzsche diz-nos mais: "se criar é ultrapassar-se, a criatura deve sempre buscar prevalecer sobre o seu criador." 

V - Para Nietzsche, todo aquele que cria valores novos, inevitavelmente destrói e/ou questiona aqueles que, anteriormente, tinham sidos criados. Entretanto, o super-homem defendido por Nietzsche não deve ser entendido como um corruptor, mas apenas como um criador, por meio de metáforas, de novos sentidos e não como um suposto legislador e/ou sistematizador de novas ditas verdades.

VI - Nietzsche, em vários dos seus escritos, fala-nos, por exemplo, da necessidade da existência de três transformações no espírito e, sob as quais, deve ou deveria passar todo Ser humano, a saber:
1- o camelo;
2- o leão;
3- a criança.

Numa espécie de metáfora por Nietzsche criada, o camelo, com um número excelso de cargas sobre as costas, está representado pelos homens de cultura judaico-cristã que, sob a forma de dogmas e/ou verdades ditas eternas e imutáveis, as carregam e propagam-nas enquanto valores absolutos.

O leão, para Nietzsche, está representado pelos homens da era moderna e/ou agora pós-moderna que, motivados pelas ideias antropocêntricas, ao mesmo tempo em que negam e esforçam-se para destruir as ditas verdades judaico-cristãs, colocam em seu lugar, também na condição de dogmas, os ditos valores e/ou saberes científicos.

A criança no espírito, para Nietzsche, é colocada "como um começar de novo; como uma roda rodando por si mesma; como um dizer não diante do que impede o homem de tomar sobre si a sua humanidade", que é entendida como o desenvolvimento, em si, das capacidades de questionar, de dialogar e de criar novos valores e sentidos. 

Criar novos valores e sentidos, para Nietzsche, como talvez erroneamente possam pensar muitos, não diz respeito a "inventar ditas novas pessoais e/ou subjetivas verdades" e, na mesma via, se tornar escravo delas, como fazem as pessoas que possuem Camelos e/ou Leões em seus espíritos.

VII - Para aqueles que acham que Nietzsche pregou ou prega a imoralidade, a amoralidade, a promiscuidade, a poligamia e a libertinagem, enganam-se: ele, Nietzsche, num dos seus escritos, diz-nos:

"se teus cães selvagens estão prontos, loucos para saírem de dentro de ti, querendo ladrar... é porque ainda não conheces de fato o que é o super homem..."

Em seguida, ele complementa-nos dizendo:

"não vos aconselho que mateis os sentidos, mas que haja inocência em vossos sentidos." 

É fato que muitos chamaram Nietzsche de louco. Para estes, Nietzsche, “humano, demasiado humano” que sempre procurou ser, apenas respondia-lhes:



"(...) O que dizem em mim ser  loucura, chamo-a apenas de saúde interior..."

terça-feira, 8 de julho de 2014

HUMANIZAÇÃO & EMANCIPAÇÃO INTELECTUAL



Humanizar-se, muito além do que poder se desenvolver por meio dos processos de socialização primária (na família) e secundária (na escola), é também um ato de Emancipação Intelectual, que se dá a partir e durante a tomada de consciência crítica.
Todavia, nem todo aquele que busca a tomada de consciência crítica emancipa-se de fato, por três motivos:
1- A emancipação intelectual é um processo de transformação e transcendência do espírito conhecedor;
2-  De conquista da autonomia para ser, fazer e refazer-se dentro dos preceitos de humanização;
3-  A consciência crítica, sozinha, não passa de consciência “de”. Pode-se ter consciência de uma coisa e não de outra.

Chega-se em dois axiomas:

1- Para humanizar-se de fato o homem precisa de educação, mas não de qualquer educação;
2- O homem precisa de uma educação que possibilite a ele, através do exercício da sua consciência reflexiva, desenvolver:

a) A consciência crítica de si;
b) A consciência crítica de mundo.

Nesse sentido, tratar-se-á, aqui, não das especificidades da tomada de consciência, mas de algo muito maior, concebido como os amálgamas do ato de humanizar-se, ainda que teoricamente especificados, objetivando favorecer um melhor entendimento e que se sustentam e se corporificam na emancipação intelectual.

I

Longe do humanismo radical dos sofistas e do humanismo Antropocêntrico, sustentado pelas ciências, no qual o homem é colocado e ao mesmo tempo entendido como “a medida de todas as coisas” e, muito mais longe ainda das ortodoxias deterministas, sejam elas científicas ou de qualquer outra natureza, pode-se dizer que:

1- O homem, por ser um ser social, um animal político, como descrito por Aristóteles, para estar no mundo, ele precisa de crítica e autocrítica;
2- Querendo-se ou não negar a existência de Deus, o homem precisa entender que ele não é só natureza, mas também dotado de espírito, de razão, de pulsão e afeto, sintetizados numa condição humana;
3- O homem precisa saber que ele é constituído de uma unidade de contrários, ou seja, de razão pulsão e afeto;
4- Ele precisa saber também que, na busca pelo entendimento do todo, especificando e particularizando linhas de estudo e/ou pesquisa, o homem ficou preso em diferentes simbolismos, em diferentes formas ortodoxas de ver o mundo, cristalizando e sistematizando paradigmas, que o impede de ver a realidade em si, mas apenas para si;
5- O homem precisa saber que, na busca pela felicidade, na busca pela sua realização pessoal, ele pode adoecer, pode ter perdas sócio afetivas, pode morrer, interrompendo sua trajetória de vida. Ele precisa entender que, ao nascer, começa a morrer. Ou seja, entender que a sua existência se constitui numa espécie de marcha para a morte.
6- Na busca pela inserção social, ele precisa se dar conta do fato de que há na sociedade desigualdades entre os homens.
7- Na busca pelo emprego, ele precisa saber que está inserido num mundo capitalista e, por isso, também Meritocrático, competitivo e individualista.

II

Ainda que, à primeira vista, possa soar como um paradoxo, a tomada de consciência de si, a consciência do ser sobre o seu “que fazer humano” não se dá somente na escola, nem somente na família e, muito menos somente nas redes sociais da internet ou somente nos outros meios de socialização específicos, relativos ao exercício dos diferentes papéis sociais, por vários motivos:

1- Na família, há certa camada de proteção, até determinada idade, assim como a construção de hierarquias e estigmas entre os indivíduos, que os impedem de se deparar frente a frente, diretamente, com as relações desiguais da vida social e de construírem uma imagem, uma consciência real de si;
2- Na escola, por outro lado, há a disseminação e a internalização, no indivíduo, de um saber erudito que o aliena, na medida em que o ilude, dizendo que somente a apropriação desse tipo de saber é capaz de conduzi-lo a melhores condições de subsistência. Além disso, valoriza-se a aquisição de conteúdos e não o desenvolvimento da criatividade; Valoriza-se o aprender pensamentos e não o aprender a aprender ou o aprender a pensar;
3- Na internet, em grande parte, não há relações de confiança nem de validade do saber, assim como incertezas sobre a sua qualidade;
4- No exercício dos papéis sociais está a prisão do ser, os estereótipos e os estigmas, que impedem o ser de ser algo além dele, no seu tempo e espaço.

III

Nos grupos favorecidos a tomada de consciência de si demora mais para acontecer, uma vez que essa proteção familiar dura mais tempo, assim como os anos de escolarização.
Nos grupos menos favorecidos, a proteção familiar termina cedo, como também, muitas vezes, a escolar. Jogado precocemente na sociedade do capital, descobre-se, querendo ou não, uma realidade catastrófica, implícita nas circunstâncias da vida cotidiana. Essas relações sociais impingem-lhe a necessidade de constantes tomadas de decisão.
Nesses grupos menos favorecidos, desenvolve-se, cedo, a partir da vivência, um potencial emancipador, mas que logo se atrofia, na medida em que, ao se questionar a própria existência diante das problemáticas sociais, não se tem como compreendê-la de forma enriquecedora e qualitativa, por falta de uma sólida formação cultural.
Ou seja, a consciência não se amplia e se cristaliza, especifica-se e limita-se como inconsciência do todo ou como consciência “de”.
Quando, porém, por algum motivo, mesmo sendo lançado cedo no mundo pela família, esse ser ainda assim consegue continuar na escola, dando sequência aos seus estudos posteriores, ele aí tem a possibilidade de confrontar os saberes da vida com os saberes eruditos e construir a sua própria visão de si.

Ele passa a poder analisar, comparar, questionar, sintetizar, dar sentido, duvidar, pensar, dando um sentido para sua existência.
Ele começa a ter a possibilidade de construir estratégias de luta e resistência contra a sua condição de excluído social...

PROFESSOR: AGENTE DE TRANSFORMAÇÃO SOCIAL OU PROSTITUTO INTELECTUAL?

EM TERRA DE ANALFABETOS, SEMIANALFABETOS E GRADUADOS AQUELES QUE POSSUEM MESTRADO E/OU DOUTORADO SÃO REIS (?)



Nas sociedades capitalistas ocidentais, onde impera a obsolescência programada; onde impera a produção desmedida de informação e conhecimento a cada seis meses, num ritmo cada vez mais alucinado; num ritmo em que quase tudo que é tido como sendo novo se torna velho quase ao mesmo tempo, soa-nos como um disparate falar em cursos de Mestrado que durem dois anos e, pior ainda, de Doutorados que durem quatro.

Ou seja, um indivíduo que entra nesses cursos almejando sair deles mais sábio, sai, em muitos casos, um ignorante com diploma; da mesma forma que um indivíduo que entra nesses cursos almejando contribuir para o desenvolvimento do conhecimento, ao concluir sua tese, na mesma medida, aumenta o lixo cultural.

Explico-me: nas sociedades do capital, tudo é mercantilizado, inclusive o que dizem ser o “saber”. Nesse sentido, os intelectuais modernos, na sua grande maioria, se transformaram numa especie de prostitutos intelectuais, ou seja, precisam criar e sistematizar "hierarquias de saber", através de títulos e diplomas, para poderem vender seus “produtos”, seus "saberes enlatados".

Numa outra via, essa "prostituição intelectual" se dá quando esses indivíduos somente buscam esses cursos para poderem receber aumentos de salários.

Infelizmente, nas sociedades subdesenvolvidas do capital, o que se procura estudar e pesquisar, através desses cursos, é o que já está obsoleto em outros países.

Se alguém tem alguma dúvida, perguntem-se quantas universidades, hoje, nesse país, exportam tecnologia ou conhecimento de ponta. Para se fazer uma linha de Metrô, por exemplo, assim como esse próprio meio de transporte, é preciso importar tudo da Alemanha e/ou mesmo da China.

Eu poderia, aqui, enumerar uma série desses exemplos. Todavia, isso talvez pudesse fazer parecer que não sou um brasileiro e que estou zombando do nosso povo. Não, nem de longe me passou isso pela cabeça…

O que se quer dizer é que, nesse país, como em tantos outros da América Latina, título de Mestre e/ou de Doutor se tornaram sinônimos de sabedoria quando, na verdade, hoje, não passam de "mitos", assim como mítica também se tornou a ciência, ao erigir-se prometendo superar o teocentrismo, a metafísica e, irônica e tragicamente, caiu no pragmatismo e/ou tecnicismo de raízes positivistas, com bases Cartesianas.

1- mitos porque a internet está aí, disponível para quem puder, quiser pesquisar e aprender em tempo real, criando redes de interação;

2- mitos porque quase ninguém tem mais tempo para ler um livro ou mesmo uma tese de quinhentas páginas, repleta de termos técnicos;

3- mitos porque quase ninguém tem mais paciência para redundâncias, hermetismos e prolixidades acadêmicas;

4- mitos porque, no mundo de hoje, quanto mais a gente sabe um assunto qualquer, menos a gente precisa escrever e/ou falar sobre ele.

Isto é, no mundo de hoje, é preciso saber dizer, com a mesma qualidade e complexidade, em no máximo três páginas, o que um mestre e/ou um doutor qualquer precisaria dizer em quinhentas ou mil, sob o formato de uma tese.

E essa questão não é exatamente da suposta diferença de qualidade entre elas, mas do desenvolvimento de uma outra capacidade imprescindível no mundo pós-moderno: poder de síntese.

Os intelectuais dessas sociedades, além de não possuírem o poder de síntese trazem, na prática acadêmica, os ranços históricos do “esquerdismo”, tornando-se críticos ao extremo e, consequentemente, na mesma proporção, "incompetentes tecnicamente".

Se você ainda está cético em relação ao que está sendo dito aqui, pense no fato de que uma das teorias que mais revolucionaram a humanidade, a da bomba atômica, por exemplo – deixo clarificado, todavia, que não sou a favor do uso dela, sob qualquer hipótese – foi e tem sido difundida pelo mundo em, no máximo, duas páginas. E não é preciso ser um expert para entendê-las: bastam conhecimentos superficiais de física e química. Não que a teoria, em si, não seja complexa, ela é, mas foi socializada - não me perguntem por quem - também a partir do poder de síntese, sob as bases do pragmatismo Norte Americano.

Todos aqueles que já passaram por uma universidade pública/ latina, entendem bem o que eu estou falando: criticar o sistema e nunca apresentar soluções parece, nesses meios, ser também o sinônimo de “ampla sabedoria”.

Lembro-me de professores que tive nos cursos de graduação e Pós-graduação que não passavam de seres completamente limitados, cativos em suas áreas específicas de saber e ignorantes para o todo, para o tempo real, para o "aqui agora", para as dinâmicas sociais diuturnas e cotidianas.

Sem querer me engrandecer, nem tampouco querer transparecer algum complexo de superioridade, dado que assim possa parecer, ao dizer o que vou dizer aqui, certa vez, apresentei um trabalho a um professor sobre os conceitos de "liberdade e igualdade em Norberto Bobbio" e o prof. Escreveu no trabalho que não conhecia o autor, mas me deu (10) dez.

Esse fato ocorreu-me várias vezes no brasil: muitos deles não sabiam que eu tinha vivido alguns anos na Europa, por meio de um intercâmbio, e que também era um rato de biblioteca.

Com esse discurso, todavia, não quero ser, aqui, mal compreendido e ser interpretado como aquele que “disse que os cursos de Mestrado e Doutorado não valem nada”, mesmo porque, agindo assim, estaria jogando pedras no meu próprio telhado.

Cursos de Mestrado e Doutorado valem... E, valem muito: só que, aqueles conseguidos, aqui, no Brasil e/ou na America Latina, perante a sociedade Global, com raras exceções, como os da Uerj, Ufrj, Uff, Ucam, Puc, Usp e poucas outras, no mundo de hoje, nada e/ou quase nada valem.

Na área da educação, por exemplo, esse atraso chega a ser tão catastrófico e disparatioso que - acredite-se ou não - ainda existem cursos de graduação e, mesmo, de pós-graduação que ainda possuem disciplinas como "métodos e técnicas de ensino", ou seja, que ainda partem da premissa de que os sujeitos da educação (prof. e alunos) são "objetos da educação", como numa linha de montagem taylorista/fordista Neotecnicista.

Na área médica/biológica esse atraso é naturalmente visível: são variados os casos de mortes provocadas por erros médicos grosseiros, como o caso, por exemplo, de uma jovem mulher que chegou grávida num determinado hospital da baixada e, sendo diagnosticada como possuidora de um mioma, teve, pelos médicos, o seu útero e feto arrancados;

Na área de exatas, essa... Nem me fale: alguém conhece algum produto de alta tecnologia criado e desenvolvido, na sua completude, por aqui. Mesmo na robótica, aqueles produzidos pela Coope/Ufrj, são os dos mais retrógrados se comparados com os produzidos no Japão, Eua e outros. Todavia, um simples curso de MBA nessa instituição "pública/que cobra do povo", não sai por menos de (10.000) dez mil dólares;

Na área do direito, vislumbre-se a quantidade de advogados formados que não conseguem passar na prova da OAB. Nesse caso, pergunta-se: serão os candidatos que estão realmente desqualificados ou então o conteúdo exigido na prova da OAB que esta atrasado, caduco na sua teoria e nos seus métodos que não privilegiam o aprender a pensar, mas somente e apenas o aprender pensamentos?

Quando pensamos que o resultado de uma causa qualquer, justa ou injusta, segue apenas o princípio de quem pode pagar e corromper, entendemos o que é esse atraso, principalmente quando pensamos nas questões éticas e morais.

O problema da exclusão social e econômica, no Brasil e na América Latina, tem raízes históricas de exclusão cultural, onde a educação, politicamente falando, nunca foi levada a sério, nunca foi levada como deveria.

Instituições como o CNPq e outras, específicas para o financiamento de pesquisas, se tornaram clientelistas e, embora muitos não acreditem e/ou não queiram ver, estão agindo - ao conceder bolsas de Mestrado e Doutorado somente para projetos de pesquisa em instituições de ensino superior PÚBLICAS - andando na contramão do desenvolvimento científico do nosso país. Pergunte-se e responda-se as seguintes questões:

1- alguém já viu por aí, em alguma instituição comunitária, em algum gueto qualquer, algum Mestre e/ou Doutor, que foi sustentado pelo CNPq e outras com verbas públicas durante anos, envolvido em alguma pesquisa e/ou ministrando um curso gratuito para os "excluídos do saber"?;

2- alguém já viu por aí esses Mestres e Doutores fazendo chegar ao excluídos, aos escravos assalariados do capital, conhecimentos gratuitos sobre educação financeira que possam libertá-los dessa condição.

O que se quer dizer, ou melhor, indagar, é: ora, se os Mestres e/ou Doutores dessas sociedades, no que diz respeito ao desenvolvimento científico, estão atrasados, ultrapassados, retrógrados em ralação às outras nações e, na mesma medida catastrófica, esses mesmos mestres e/ou doutores, já que foram financiados pelos excluídos, não fazem chegar os seus parcos saberes "pesquisados" aos próprios excluídos, que os pagaram, através de impostos, para tê-los, para que então, nessas sociedades, servem os ditos tais Mestres e/ou Doutores? Sem respostas...

E esse processo é ainda mais trágico: esses Mestres e/ou Doutores, depois de terem sido financiados com o dinheiro do povo para "pesquisar", enquanto esse povo, como escravo só trabalha, ainda, depois de formados, vão receber salários para vender ao, próprio povo, aquilo que lhes foi dado de graça pelo próprio povo.

Esse fato está dado porque, os Mestres e/ou Doutores, financiados por instituições públicas como o CNPq e outras, depois de formados, vão vender suas aulas não somente nas instituições publicas e de ensino, mas também nas privadas e/ou particulares.

Pergunta-se: não deveriam os Mestres e/ou Doutores, por uma questão de justiça e ética, darem aulas gratuitas nas instituições publicas até devolverem aos cofres públicos o que retiraram do CNPq e/ou então pagarem ao mesmo CNPq, o mesmo valor dele retirado, corrigido, ao venderem seus servições nas instituições privadas ditas de ensino? 

A meu ver, instituições como o CNPq deveriam começar a financiar pesquisas e pesquisadores já no segundo seguimento do ensino fundamental, no ensino médio e na graduação, evitando assim a evasão escolar e, nesse sentido, aumentando também a vida útil do próprio pesquisador.

Existem problemáticas nesse universo da juventude que precisam de atenção redobrada, no que diz respeito ao valor e ao sentido do trabalho, das concepções éticas, da exclusão social e econômica, da necessidade de educação financeira, do entendimento de direitos e deveres e das concepções referentes a liberdade e igualdade, numa sociedade Individualista e Meritocrática, justamente por ser capitalista.

Todo jovem não deveria ser, somente, como dever de todo cidadão - salvo exceções relativas à idade - obrigado a servir as forças armadas e também a votar, mas, também, objetivando o desenvolvimento tanto do país, quanto o do jovem estudante/pesquisador, envolvido em algum projeto de pesquisa, que tenha como foco a resolução de problemáticas locais e planetárias.

O caso do atraso tecnocientífico do Brasil e da América Latina, hoje, pode e deve-se dizer, tem se dado não somente por falta de verbas, mas porque "Mestres e/ou Doutores" não deveriam ser concebidos como "profissões", mas como "missões sociais", objetivando-se à busca pela equidade social e econômica em escala planetária", e não vistas, como a possibilidade da busca pelo acesso aos cargos públicos e políticos, para a mera obtenção de "prestígio, status e poder".

Infeliz e catastrófica conclusão: nessas sociedades, "todos ganham", porque somente quem perde é o povo; só quem perde são os excluídos - em escala global... planetária.

Certos cursos de Mestrado e Doutorado, no Brasil, fazem-nos lembrar dos axiomas de "Hannah Arendt", especificamente aqueles sobre "as duas formas inautênticas de aparição do ser", presentes nas sociedades modernas:

1-pelo que dizem que pensam;

2-pelo que dizem que fazem,

Por meio dos diplomas, mascarando, na essência, o que o ser realmente é, enquanto "alma"; o que o ser realmente é além do seu espírito, o chamado espírito "cartesiano", centrado no "penso, logo existo", traduzido e sistematizado, na presente era moderna e/ou pós-moderna, como a mais pura "arte racional da dissimulação” e que, muitos, preferem chamar apenas e simplesmente de "inteligência emocional". 



P.S TEXTO/PARTE INTEGRANTE DO LIVRO "ONDE E COMO NASCEM OS INTELECTUAIS" À VENDA PELA WWW.AMAZON.COM NOS EUA, EUROPA, ÍNDIA E JAPÃO E DISTRIBUÍDO NO BRASIL PELA "ATSOC EDITIONS" http://atsoceditions.blogspot.com

segunda-feira, 7 de julho de 2014

PÓS-NEOLIBERALISMO: FIM DO CAPITALISMO (?)

Karl Marx acreditava que o capitalismo não subsistiria enquanto classe sociopolítica por trazer, em si, como uma espécie de paradoxo essencial; como uma espécie de contradição interna; como uma espécie de unidade de contrários, a capacidade de, ao mesmo tempo, se desenvolver e desagregar membros sob a forma da produção da exclusão social; sob a forma da concentração de riquezas, cada vez mais, nas mãos de poucos e, portanto, enquanto “sociedade política”, nesse sentido, naturalmente seria incorporada pela “sociedade civil”, ou seja, desapareceria. 

Marx, dentro dessa perspectiva, não somente previu o fim do capitalismo, mas também idealizou o surgimento natural das sociedades socialistas, que, em contrapartida, a corrente não socialista afirma ser completamente utópica, ou seja, um ideal nunca, de fato, capaz de ser atingido na prática. 

Com base nos preceitos de Marx, as sociedades do século XX viram surgir, em diferentes continentes, como tentativas de se construir uma alternativa social frente ao capitalismo, diferentes formas de sociedades ditas comunistas e/ou socialistas, como a das chamadas repúblicas socialistas soviéticas (já decaídas no final do século XX), a da China, a de Cuba e também muitas outras. 

Muitas dessas sociedades, todavia, receberam e, ainda hoje, recebem críticas substancias em relação não somente às suas reais viabilidades enquanto sociedades Socialistas, mas, também, quanto às suas fidedignidades aos ditos ideais de “sociedade perfeita” preconizados por Marx. 

Essas críticas não são somente feitas por parte dos representantes das alas Capitalistas, mas, também, ainda que em minoria inexpressiva, por parte dos que se dizem Marxistas, Neomarxistas e/ou Marxistas ortodoxos. 

A questão, nesse sentido, que por hora aqui se levanta, é: Se, como preconizou Marx, o capitalismo naturalmente desapareceria e daria lugar ao socialismo, não teriam essas ditas sociedades socialistas e/ou comunistas, erigidas no séc. XX, nas suas grandes maiorias, fracassado nesse ideal por terem sido justamente erigidas precocemente, antes do tempo, ou seja, terem sido erigidas antes das etapas previstas por Karl Marx para o suposto fim do capitalismo? E mais: estaria Marx certo quanto a essa questão sobre o fim do capitalismo? 

Pensa-se que, ao caminharmos em direção a resolução da segunda questão, a mais essencial, consequentemente estaremos também construindo meios plausíveis para a “problematização” da primeira, ainda que esse não seja, aqui, propriamente o nosso real e maior objetivo. Ainda assim, vamos a ela... 

Gramsci, com toda a sua magnitude intelectual, nos faz ver o problema sobre o dito suposto “fim do capitalismo”, preconizado de forma brilhante e epistemologicamente fundamentado por Karl Marx, através de outro ângulo; por outra via; por outro sentido. 

Gramsci simplesmente inverte o “conceito de Sociedade civil” preconizado por Marx e, justamente ao inverter essa compreensão sobre o conceito de “sociedade civil”, diferentemente de Karl Marx, fala-nos sobre o poder que a “sociedade política” tem, mesmo sendo quantitativamente inferior em relação à “sociedade civil”, de, através do controle e domínio da superestrutura (valores, cultura, etc.), transformar e solidificar os seus valores essenciais em conteúdos éticos de Estado, ou seja, torná-los e/ou transformá-los numa espécie de corolário de toda a sociedade. 

Nas sociedades do século XXI, principalmente no Brasil e na América Latina, tem ganhado força as teorias Pós-neoliberais um tanto quanto românticas, ou seja, que, entre outras coisas, preconizam que, após as sucessivas crises do capitalismo, em especial àquelas ocorridas na Europa no início do século XXI, as sociedades estão caminhando finalmente rumo à sistematização da equidade social, em escala planetária, pautadas na ideia também de que o fim do capitalismo está próximo, ou seja, reavivando os grandes ideais Marxistas de sociedade. 

Em países como o Brasil, por exemplo, como também em outros da América Latina, as seguida eleições e reeleições, alcançadas democraticamente, através do voto popular, por presidentes progressistas, ditos de esquerda e, consequentemente, o avanço de políticas publicas significativas nessa direção, como a questão das cotas, por exemplo, ou seja, reservas legais de vagas, em universidades públicas, para etnias historicamente excluídas e para as de pessoas oriundas de diferentes grupos sociais excluídos, já é uma realidade jurídica nessas sociedades. 

Todavia, essa não é a única vertente sobre o sentido do Pós-neoliberalismo. Existe também aquela que, embora muitos a queiram chamar de pessimista, ela é, na verdade, realista, ou seja, não tão romântica e erigi-se justamente com base nos preceitos de Gramsci, apontadas também por Norberto Bobbio, no seu livro “o conceito de sociedade civil” (1995). 

Nesse sentido, com base nos conceitos de “inversão do conceito de sociedade civil” em Gramsci, pode-se dizer, ao contrário da versão romântica sobre o Pós-neoliberalismo, já descritas acima, que, ele, o Pós-neoliberalismo, entre outras coisas, na realidade, ainda que muitos não consigam e/ou mesmo não queiram ver, está sintetizado no axioma de que: “Os valores do capitalismo estão sistematizados nas sociedades ocidentais pós-modernas, instituídos estes como os seus conteúdos éticos de Estado, de tal modo que os ditos cidadãos, dessas mesmas sociedades, têm internalizado esses mesmos valores em suas psiques, como se os mesmos fossem de fato seus”. 

Isto é, em outras palavras, estando os indivíduos dessas sociedades, com esses valores do capital conformados, mas agindo como se deles estivessem, de fato, livres: agindo, inconscientemente, em prol deles, conformadamente , crendo-se estarem, todavia, hiper-conscientes. 

Nesse sentido, o Pós-neoliberalismo se traduz, também, como uma inversão de valores. Por exemplo: 

1- O cidadão se transforma em consumidor; 
2- O sucesso pessoal vira sinônimo de competência, inteligência e qualidade extrema; 
3- A exclusão social se transforma em sinônimo de incompetência; 
4- A Inclusão social, por outro lado, se torna sinônima do aumento do poder de consumo que, por sua vez, se confunde com o sentido de prosperidade ou riqueza. 

Nas questões políticas, o Pós-neoliberalismo segue o mesmo caráter trágico dessa inversão de valores: 

1- Políticas públicas se transformam em sinônimo de caridade; 2- O Estado, ao invés de criar políticas públicas, cria estruturas para o desenvolvimento do capital e das políticas de consumo; 3- Os ditos três poderes viram sinônimos de fantoches dos valores do mercado, ao aprovarem e fazerem cumprir leis que mantenham e sistematizem esse “status quo”; 
4- As sociedades capitalistas se unificam em escala global, unificando mercados, castrando qualquer princípio de respeito à diversidade, “Planetarizando” e/ou Globalizando os processos de exclusão. 

Nesse sentido, diante dessa catástrofe social e humana, alternativas sociais, em tempos de exclusão e desencanto, urgem. Todavia, uma possível renovação social pela renovação do entendimento, soa-nos como mais um daqueles ideais que, quase todos, dizem-nos ser completamente utópicos e inviáveis na prática. 

Isso pelo fato de que, a Escola, de onde deveria nascer essa renovação do entendimento, está impregnada, como todas as outras instituições ideológicas do Estado, pelos valores do capital, especialmente por àqueles Individualistas e Meritocráticos, sob as bases do Neotecnicismo.